Rural
Cultivo de aspargos resiste pela obstinação de produtora de Pelotas
Agroindústria Frutos da Terra na Colônia Osório industrializa anualmente de três a quatro mil quilos da hortaliça
Foto: Jô Folha - DP - Rosani, o marido e os dois filhos atendem o dia a dia da empresa
Por Luciara Schneid
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Uma hortaliça que, dos anos 60 aos 80, elevou Pelotas à condição de grande produtor hoje resiste graças à obstinação da produtora Rosani Schuch Voigt, uma das fundadoras da agroindústria Frutos da Terra, localizada na Colônia Osório, 3º distrito de Pelotas, especializada na produção de doces e conservas. Do pepino à cebola e picles decorados, além dos doces, como ambrosia, figo, abóbora, batata doce, chimias e geleias, a agroindústria tem uma grande variedade de produtos mas o seu carro-chefe é o aspargo.
Inaugurada em 1997, a Frutos da Terra completou em 18 de setembro deste ano, 20 anos de atividades. A pequena indústria foi iniciada por Rosani em parceria com a irmã Rovani Schuch, que deixou a atividade há alguns anos, pois resolveu seguir outro caminho. O empreendimento é o único que ainda produz e oferta para venda aos pelotenses, o aspargo em conserva, e virou referência para consumidores e restaurantes.
A hortaliça deixou de ser produzida pela indústria conserveira local, nos anos 90, devido à concorrência com o produto importado. Segundo registros do Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pelotas e região (Sindocopel), a produção de aspargos na região chegou a seis mil toneladas. Hoje, com as lavouras de Rosani, em torno de um hectare, e do produtor Selvino Polnow, de Turuçu, mais um hectare, que cultiva a hortaliça para ela, a produção gira em torno de três a quatro toneladas por ano. “Este ano tínhamos lavoura para colher o dobro, mas a produção deve ficar em torno de 3,5 mil quilos por causa do clima seco que prejudicou o desenvolvimento das plantas”.
Filha de antigo produtor de aspargo, Rosani é uma apaixonada pela cultura e trabalha para que o produto com procedência pelotense não seja extinto. No auge da produção, chegaram a ser colhidos na propriedade oito mil quilos da hortaliça. “Trata-se de uma cultura difícil, que envolve muita mão-de-obra, principalmente na colheita, que começa entre o final do mês de setembro e início de outubro e se estende até metade de dezembro”, ressalta. Para a colheita, ela conta com a habilidade do funcionário Paulo Rogério Robe, que trabalha com ela desde 2016, mas possui afinidade com a cultura desde menino, conta.
Segundo a produtora, sua paixão pela cultura foi herdada do pai, ainda em 1997, quando ganhou de presente dele, uma caixa da hortaliça e ela mesma, fez as conservas, que renderam em torno de 20 vidros. “Minha sogra levou para a cidade e vendeu tudo”, conta. Foi neste momento que resolveu apostar na cultura e comprou a lavoura do pai. Nesta época, também podia contar com a produção de vizinhos e chegou a integrar um grupo de dez a 12 famílias que também se dedicavam à cultura. Aos poucos se voltaram a outras culturas, como a soja.
Todo o processo, da lavoura à agroindústria, é totalmente manual, desde a colheita, separação por tamanho e cor. Por se desenvolver embaixo da terra, o aspargo precisa ser lavado várias vezes, descascado, fervido e colocado nos vidros. Neste momento, toda a família põe a mão na massa, pois além de Rosane, o marido Carlos Alberto Voigt, os dois filhos Victória e Alan Voigt, trabalham com ela na agroindústria, que conta ainda, com a funcionária Áurea Fassbender. “Para mim é uma grande satisfação trabalhar ao lado da minha família”, ressalta.
Ela explica que a diferença entre o aspargo branco e o aspargo verde, é que o primeiro é colhido ainda embaixo da terra e descascado. “O aspargo é o broto de uma raiz”, salienta. Ela explica que se trata de uma cultura perene, em que a parte vegetativa se mantém verde até a chegada do inverno, quando morre e seca, isso entre os meses de agosto e setembro. “Neste momento é que se faz a limpeza da lavoura e o canteiro, em forma de camalhão, para que se desenvolvam os brotos”, diz. Segundo ela, sua produção só não pode ser considerada ecológica porque utiliza adubo químico.
No auge da produção, chegam a ser feitos de dois a três cortes por dia, conta. “Desde o plantio da semente até a primeira colheita, leva em torno de três anos. É uma cultura que exige paciência”, ressalta. A sua preocupação atual é não deixar a cultura morrer, pois considera a atividade como uma obra de arte, pois além de ser totalmente artesanal, não leva qualquer tipo de veneno. E por isso, mesmo que em pequena escala, ainda insiste na produção, que também envolve custos altos. Além da venda na agroindústria, 90% da sua produção é destinada a restaurantes. “Não tenho como vender para grandes redes porque não tenho volume mas ano passado, consegui fornecer para um macroatacado”, acrescenta.
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